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Fonte: M de Mulher

 

“Hebe – A Estrela do Brasil”, a primeira cinebiografia de Hebe Camargo, chega aos cinemas nessa quinta-feira (26) e traz uma proposta que se destaca dentre a recente enxurrada de filmes sobre personalidades brasileiras. Em vez de tentar retratar um grande número de fatos marcantes da trajetória da apresentadora, o longa protagonizado por Andrea Beltrão mostra um breve recorte da história de Hebe.

O filme não faz menção ao fato de que Hebe estava presente no nascimento da TV Tupi, a primeira emissora do Brasil, ou ao “O Mundo é da Mulheres” o primeiro programa da TV brasileira voltado ao público feminino – e que era comandado por ela. No longa, apenas vemos acontecimentos de meados dos anos 1980, quando a Hebe abandonou a Bandeirantes e entrou para o SBT.

A limitação desse recorte não faz com que o filme se torne pequeno, pelo contrário. Trata-se de uma escolha acertada, pois o roteiro flui no tempo em que precisa fluir e se propõe a contar uma história interessante, em vez de dar uma aula apressada sobre tudo o que há para se saber sobre a personagem principal.

O filme também se propõe a exaltar o espírito combativo de Hebe e os pormenores pouco conhecidos de sua vida pessoal. Com isso em mente, a roteirista Carolina Kotscho e o diretor Maurício Farias se debruçaram sobre os bastidores do relacionamento abusivo que Hebe viveu com o segundo marido, Lélio Ravagnani.

No longa, vemos o ciúme de Lélio crescer ao longo da trama, até culminar em agressão física. Esse drama vivido por Hebe foi revelado pela própria, em entrevistas, e também por seu filho, Marcello Camargo. Mesmo assim, é um fato desconhecido por boa parte do público que a acompanhava na TV.

Há uma entrevista, concedida a Bruna Lombardi, em que Hebe chega a aconselhar outras mulheres a buscarem a independência financeira, pois assim é mais fácil sair de um relacionamento abusivo. Na mesma ocasião, ela falou sobre a época em que separou-se de Lélio por causa do comportamento agressivo dele. “Nós vivemos muitos anos bem, etc. e tal, de repente começou uma agressão que eu não entendia. ‘Mas como? Tá me maltratando, não está sendo legal comigo. Por que é que eu estou me sujeitando a isso?”

“Hebe – A Estrela do Brasil” mostra uma cena de agressão física e também a reação enérgica da Hebe, dizendo que queria a separação. O filme não mostra, mas os dois reataram algum tempo depois e continuaram juntos até a morte de Lélio. Nessa mesma entrevista que você pode assistir acima, a apresentadora garante que o marido mostrou-se mudado depois do rompimento, e isso fez com que ela o perdoasse.

Mais recentemente, o filho de Hebe deu mais detalhes sobre o relacionamento abusivo da mãe, em depoimento ao jornalista Artur Xexéo, que lançou a biografia da apresentadora em 2017. “Ele era extremamente ciumento. Voltava alterado das noitadas e brigava com a minha mãe por causa de ciúmes. Insinuava que ela tinha dado muita atenção a alguém ou reclamava que alguém tinha dado muita atenção a ela. Eram madrugadas de confusão. E ele ficava violento. Teve uma noite em que minha mãe se trancou no quarto, e ele derrubou a porta dando murro”.

Diretor e roteirista de “Hebe – A Estrela do Brasil” comentam a cena de agressão do filme

Em entrevista ao MdeMulher, Maurício Farias e Carolina Kotscho falaram a respeito dos pormenores da cena. Há pontos muito marcantes nela e a gente quis saber se há relatos de que as coisas aconteceram daquela maneira.

Bom, na tela o que a gente vê é uma crise de ciúme causada pela participação de Chacrinha do programa de Hebe. Lélio fica furioso com a forma com Chacrinha trata Hebe – que a assedia ao vivo na TV – e tem atitudes agressivas no meio de uma festa lotada, onde várias pessoas presenciam a cena. Seguranças do local apartam a briga.

Depois, em casa, Lélio agarra Hebe a força, jogando-a no chão e rasgando seu vestido. O que se vê é o início de um estupro, mas Hebe consegue se desvencilhar do marido. Ela corre dele e quebra uma garrafa de vidro, ameaçando Lélio e dizendo que o casamento havia acabado ali.

E, de fato, as coisas aconteceram assim?

“Tudo vem de pesquisa. A relação dela com o Lélio era uma reação muito exposta. Há relatos até de garçons que presenciavam essas brigas em público nos restaurantes que eles iam, era uma relação explosiva e isso era público. Tem também depoimentos dela, aquela cena em que ela canta “Começar de Novo”, aquilo de fato aconteceu naquele período em que eles ficaram separados. Então, tudo é fato. É fato que é uma relação com essa temperatura. É fato que eles se separaram por causa de uma agressão. O resto é dramaturgia. Então, essa progressão do ciúme nas duas horas de filme e o encadeamento das cenas, é dramaturgia. A gente não estava lá. Aquela cena, daquele jeito, por causa do Chacrinha não aconteceu. Isso é uma construção de dramaturgia”, explica Carolina sobre as escolhas feitas no roteiro.

O diretor, Maurício Farias, comenta que Chacrinha chegou a dar uma resposta a Lélio na TV, ao vivo, pois o ciúme dele em relação ao apresentador ganhou repercussão na época. O filme também mostra que o marido de Hebe se incomodava com a proximidade entre ela e Roberto Carlos, fato que foi exposto publicamente por Hebe.

 (Hebe – A Estrela do Brasil/Divulgação)

Quanto à violência sexual mostrada no filme, Carolina diz que isso também foi uma construção dramatúrgica, feita com base na época em que a trama se passa. “A questão entre a violência e o sexo eu acho que é do casal. Porque fica dúbio, eu acho que essa é a maior dúvida das mulheres, né? Hoje as pessoas têm muito mais acesso à informação, tem muito mais clareza do que é a violência domestica, do que é agressão e do que é o estupro dentro do casamento. Essa era uma consciência que não se tinha naquela época. A Hebe não tinha a informação que você tem, a clareza que a gente tem, o nível de informação e de debate aberto que se tem hoje sobre a violência doméstica. Anos 1980 era terra de ninguém. Era terra em que o assédio corria solto, ainda mais nesse mundo da televisão. Então a gente tem que também colocar isso na perspectiva do tempo”.

Complementando os apontamentos de Carolina, Maurício fala a respeito do tom dado às cenas protagonizadas por Hebe e Lélio ao longo do filme. De início, vemos muita cumplicidade e paixão, mas logo o ciúme dá as caras, de maneira crescente. O diretor comenta a respeito da vontade de mostrar o turbilhão de sentimentos confusos, vivenciados por Hebe naquela situação abusiva em que se encontrava.

“A intenção é provocar, mostrar as sensações que uma mulher naquelas condições passaria. Então, a gente tentou trazer para as cenas uma progressão desses sentimentos confusos e, ao mesmo tempo, em movimento, que a gente vai organizando dentro da gente. As coisas que a gente sente e que agente vive nem sempre são ditas claramente, especialmente nas relações [amorosas]. Acontecem pequenas coisas que às vezes você nem entende muito bem. […] Então, a construção que a gente foi fazendo, foi justamente mostrando o quão complexa era aquela relação deles, o quanto tinha de paixão e, ao mesmo tempo, o quanto tinha de equívoco também – numa relação em que se permite determinadas coisas. E eu acho que essa consciência é a consciência que a Hebe estava tomando naquele momento”.

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